Ratos de Porão inicia turnê de 40 anos com íntegra de 'Crucificados pelo Sistema'

Ratos de Porão ao vivo comemorando seus álbuns clássicos


Por  Ricardo Cachorrão 


E foi há 40 anos que os primos João Carlos e Roberto se juntaram ao amigo Jarbas, ou simplesmente Jão, Betinho e Jabá, lá na Vila Piauí, subúrbio na Zona Oeste da cidade de São Paulo, e fundaram uma verdadeira instituição: nasceram ali os RATOS DE PORÃO, seguramente o maior e mais importante nome do punk hardcore brasileiro.


A história é longa, repleta de discos clássicos, confusões, mudanças de formação, incontáveis turnês no Brasil, Europa, Estados Unidos e América Latina, até chegarmos em 2021, com a formação mais estável e longeva, que conta há 17 anos com João Gordo, no vocal, Jão na guitarra, Juninho no baixo e Boka na bateria.


Depois de quase dois anos sem tocar, devido à pandemia do coronavírus, o tempo parado serviu para, além de cada um se dedicar a trabalhos diversos, gestar um novo disco, que já está pronto e sucederá o excelente Século Sinistro, de 2014.


E agora, com a vida voltando aos poucos ao normal, resolveram comemorar as quatro décadas da banda em grande estilo: foram agendadas cinco noites na novíssima casa de shows La Iglesia, de propriedade do guitarrista Jão, anexo ao bem sucedido restaurante La Borratxeria, onde o guitarrista também é um dos sócios, para a banda tocar em cada uma das noites os cinco primeiros álbuns, na íntegra: Crucificados Pelo Sistema (1984), Descanse em Paz (1986), Cada Dia Mais Sujo e Agressivo (1987), Brasil (1989) e Anarkophobia (1991). O sucesso da ideia e a procura foram tão grandes que, após a venda de todos os ingressos, de todas as noites, em pouco mais de 24 horas, foram agendadas mais cinco noites, para repetir a dose, e, também estão todas esgotadas.


Estivemos na noite de estreia e o que se viu foi festa, celebração. A casa ficou lotada e, acertadamente, seguindo todos os protocolos de saúde, como a exigência da carteira de vacinação contra a covid-19 para poder entrar. “Crucificados Pelo Sistema” é um disco clássico, que conta com pérolas como, além da faixa título, “Morrer”, “Caos”, “Agressão Repressão”, “Pobreza” e “F.M.I.”, e estavam todas lá, uma atrás da outra, sem tempo para respirar.


A ironia esteve presente e João Gordo, que ao lado de Jão, é uma das vozes mais enfáticas nas redes sociais contra esse governo de extrema-direita que temos, diz que não entra em sua cabeça de como um punk pode apoiar um fascista, e dedica a próxima música, o cover do Olho Seco presente no disco de estreia do Ratos de Porão, ao seu vocalista Fabião, que recentemente publicou um discurso de direita no Facebook e veio “Que Vergonha!”.


O disco homenageado da noite tem 16 músicas, mas é curto, e após tocá-lo na íntegra, a banda sai do palco, para voltar rapidamente e Gordo anunciar que irão tocar mais algumas coisas, e o público delirou com tudo o que a banda mandou, como o cover “Desemprego”, da banda Fogo Cruzado ou a música em italiano “Quando Ci Vuole, Ci Vuole!”, presente no disco Just Another Crime... in Massacreland, de 1993.


Foi uma excelente noite, com muito som, para matar a saudade e mostrar uma banda com sangue no olho para estar no palco e destilar seu ódio contra as mazelas humanas. Fica a vontade de ver os outros quatro shows especiais, e a expectativa de conhecer o novo álbum, que deve sair no começo de 2022. Vida longa aos Ratos de Porão... São 40 anos de desgraceira sonora, e parece que foi ontem.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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